O suposto amor que tínhamos acabou
Morreu engasgado com o osso da sorte que nunca quebramos
Não havia em nós mais do que a vontade de ser feliz
E a vontade passa
Como uma epifania do que poderia dar certo
Um bilhete de loteria que perdi sem saber os números que marquei
Vanessa Dias
domingo, 23 de dezembro de 2018
domingo, 16 de dezembro de 2018
Marginal
O grito dos excluídos
Mortos em vida,
Desvalidos
Com as feridas abertas,
Recebem nas chagas beijos de sal
Aos virtuosos são invisíveis
Corações andarilhos que carregam gente
São sementes
De árvores de raízes fortes
Profundas
As marcas na pele
Na alma
A quiromancia não diria que é caso de sorte
Pra muitos restam a morte
Escape da vilania
Imundície que edificamos e batizamos Sociedade
A maldade espreita e se deita na cama dos abastados
Insinuando ao pé do ouvido que nada é suficiente
Tudo são números
Estatística
Marcha ré na igualdade
Um prato vazio tilinta como que anunciasse mais um óbito
Um Carcará faminto espreita o repousar do corpo cansado
Cuja as entranhas secas doem
Vazias como suas vidas
Fome
O céu algodão doce ludibria aqueles olhos que temem a chuva
Olha aquele rio de lama!
Não tem barco
Tem casa, cama
Desesperada a esperança leva as mãos à cabeça
E chora
Nada melhora
Vê!
Eis que chega ajuda!
Um punhado de arroz e rapadura
Pra tirar a amargura,
Ponha na boca esse doce,
Pois, a vida é dura
Vanessa Dias
Mortos em vida,
Desvalidos
Com as feridas abertas,
Recebem nas chagas beijos de sal
Aos virtuosos são invisíveis
Corações andarilhos que carregam gente
São sementes
De árvores de raízes fortes
Profundas
As marcas na pele
Na alma
A quiromancia não diria que é caso de sorte
Pra muitos restam a morte
Escape da vilania
Imundície que edificamos e batizamos Sociedade
A maldade espreita e se deita na cama dos abastados
Insinuando ao pé do ouvido que nada é suficiente
Tudo são números
Estatística
Marcha ré na igualdade
Um prato vazio tilinta como que anunciasse mais um óbito
Um Carcará faminto espreita o repousar do corpo cansado
Cuja as entranhas secas doem
Vazias como suas vidas
Fome
O céu algodão doce ludibria aqueles olhos que temem a chuva
Olha aquele rio de lama!
Não tem barco
Tem casa, cama
Desesperada a esperança leva as mãos à cabeça
E chora
Nada melhora
Vê!
Eis que chega ajuda!
Um punhado de arroz e rapadura
Pra tirar a amargura,
Ponha na boca esse doce,
Pois, a vida é dura
Vanessa Dias
Padecer
Essa dor que se sente
Esse lamento infindável
Esse gosto amargo que queima na boca
Úlcera que consome as entranhas e regogita
As promessas
O cárcere numa gaiola de ouro
É acordar de um pesadelo embaixo da cama
Ilusão daquele que ama e foi deixado
Teve do sentimento asco
Fizeram pouco caso
Sentir-se enganado é natural
Habituado às desgraças
A raiva tem prazo
Logo esvazia-se das sensações e fica o vazio
Os olhos eclipsados de nada
Nuvem negra e não tempestuosa traz na escuridão alento
Acomoda-o no âmago da tragédia
Morto caminha
Esperando que se acabem seus dias por si só
Pois já se matou
Absteve-se de viver
Pra não sentir dor
Vanessa Dias
Esse lamento infindável
Esse gosto amargo que queima na boca
Úlcera que consome as entranhas e regogita
As promessas
O cárcere numa gaiola de ouro
É acordar de um pesadelo embaixo da cama
Ilusão daquele que ama e foi deixado
Teve do sentimento asco
Fizeram pouco caso
Sentir-se enganado é natural
Habituado às desgraças
A raiva tem prazo
Logo esvazia-se das sensações e fica o vazio
Os olhos eclipsados de nada
Nuvem negra e não tempestuosa traz na escuridão alento
Acomoda-o no âmago da tragédia
Morto caminha
Esperando que se acabem seus dias por si só
Pois já se matou
Absteve-se de viver
Pra não sentir dor
Vanessa Dias
sábado, 15 de dezembro de 2018
Era amor
Seu silêncio é ensurdecedor
As palavras que eu disse não eram lindas
Eram amor
Que lhe entreguei em despedida
Depois de decidir que em minha vida
Não cabe mais dor
Num último suspiro
tive que deixar aquilo que eu acreditava me fazer viver
Às vezes se deixar morrer é preciso
Para das cinzas renascer
Vanessa Dias
As palavras que eu disse não eram lindas
Eram amor
Que lhe entreguei em despedida
Depois de decidir que em minha vida
Não cabe mais dor
Num último suspiro
tive que deixar aquilo que eu acreditava me fazer viver
Às vezes se deixar morrer é preciso
Para das cinzas renascer
Vanessa Dias
domingo, 23 de setembro de 2018
Tenho de suportar a dor das palavras que te disse e tive que engolir de volta
A boca tomada pelo desgosto sela para que os segredos não gritem
As juras
Os sonhos que matei e que agora fedem
Exalam a felicidade putrefada
Me mantêm acordada
Arrependida
Sinto-me estúpida por ter lhes dado um dia asas
Fiz da nossa história casa
Abrigo encrustado de pedras preciosas que hoje atiro aos porcos
Uma morada que nunca ousou habitar
Tu sempre foi visita em mim
E eu em você sepultada
Vanessa Dias
A boca tomada pelo desgosto sela para que os segredos não gritem
As juras
Os sonhos que matei e que agora fedem
Exalam a felicidade putrefada
Me mantêm acordada
Arrependida
Sinto-me estúpida por ter lhes dado um dia asas
Fiz da nossa história casa
Abrigo encrustado de pedras preciosas que hoje atiro aos porcos
Uma morada que nunca ousou habitar
Tu sempre foi visita em mim
E eu em você sepultada
Vanessa Dias
sexta-feira, 14 de setembro de 2018
Mensagem na Garrafa (para quem se interessar)
Algum lugar, qualquer dia de um mês qualquer,
Estou perdida numa ilha, eu não sei onde fica mas daqui posso avistar minha vida.
Existem aqui algumas fendas nas paredes rochosas, e em uma delas tenho me abrigado à noite.
Não vejo sinal de outras pessoas, ninguém com quem eu possa manter uma conversa ou estabelecer qualquer tipo de relação.
Ás vezes vejo fantasmas, que me visitam nos piores momentos, sussurrando seus nomes e exalando perfumes que eu gostaria muito de esquecer.
Mas não tenho medo, eu já os conhecia.
Os dias passam lentos e dolorosos, sinto meu corpo doer constantemente, talvez por abrigar minha alma ressequida. Não tenho acesso a nenhum tipo de medicina ou entorpecente que me alivie um pouco.
Passo o dia a murmurar versos e a cantar canções miseravelmente bonitas, mas não tão alto, pois os fantasmas escutam e tornam a me atormentar.
Encontrei a pouco tempo um marinheiro, que me parecia perdido também, me contou histórias de terras longínquas e me fez companhia por vezes quando alua deixava de iluminar esse lugar tomado por sombras.
Eu ri de suas piadas e descansei um pouco enquanto ele vigiava o perigo ao redor. Por pouco as vozes sumiram.
Certo dia, fui tomada por um rompante que me encheu de calor e senti a ilha estremecer, eu disse a ele que o amava. Estava eufórica, estava feliz.
Mas o pobre marinheiro nunca esteve perdido, ele sempre soube o caminho de casa e nela morava sozinho.
Ele se foi.
Nos últimos dias, eu aprendi a fazer fogo, isso me foi útil, eu consigo iluminar a ilha por algumas horas me afastando um pouco da penumbra, uso o carvão que sobra entre as cinzas para escrever nas paredes do meu abrigo coisas sobre amor, sobre ops dias que nunca vivi e coisas que eu nunca provei. Me mantém ocupada de tal forma que penso ser importante e lembro do meu próprio nome.
Tenho ficado muito aqui dentro, olhando pela fenda a chuva que se instalou lá fora.
Que tempestade, que aguaceiro medonho!
Não tenho como sair e minha lenha está acabando.
Mas caro leitor, isso não é um pedido de socorro. Não é um lamento, é a minha história.
Eu naufraguei em meu pranto, minha nau não era tão pomposa, mal tinha velas, era um verdadeiro desastre que infelizmente não comportou o peso da minha esperança ou do amor que eu trazia contrabandeado no porão.
Era tudo o que eu tinha. E se foi nas águas.
Talvez eu não saiba mais o que estou falando, o fogo está acabando e meu corpo frio começa a adormecer, talvez pra sempre ou pra nunca mais.
Ainda chove lá fora e a maré está alta.
Ponho esta mensagem numa garrafa vazia do último porre que tomei e a lanço, talvez alguma rede a arraste num dia de sol, ou talvez, ela se perca pra sempre.
Se alguém está lendo, saiba que fui um dia uma mulher, que teve a ousadia de tecer sonhos e dessas tramas ordinárias fez estandarte e discursou com convicção que só aceitaria a felicidade e nada mais. Acabou perdendo tudo o que tinha de mais precioso por oferecê-lo a quem não tinha zelo.
Isolou-se e se abrigou no próprio coração.
Estou perdida numa ilha, eu não sei onde fica mas daqui posso avistar minha vida.
Existem aqui algumas fendas nas paredes rochosas, e em uma delas tenho me abrigado à noite.
Não vejo sinal de outras pessoas, ninguém com quem eu possa manter uma conversa ou estabelecer qualquer tipo de relação.
Ás vezes vejo fantasmas, que me visitam nos piores momentos, sussurrando seus nomes e exalando perfumes que eu gostaria muito de esquecer.
Mas não tenho medo, eu já os conhecia.
Os dias passam lentos e dolorosos, sinto meu corpo doer constantemente, talvez por abrigar minha alma ressequida. Não tenho acesso a nenhum tipo de medicina ou entorpecente que me alivie um pouco.
Passo o dia a murmurar versos e a cantar canções miseravelmente bonitas, mas não tão alto, pois os fantasmas escutam e tornam a me atormentar.
Encontrei a pouco tempo um marinheiro, que me parecia perdido também, me contou histórias de terras longínquas e me fez companhia por vezes quando alua deixava de iluminar esse lugar tomado por sombras.
Eu ri de suas piadas e descansei um pouco enquanto ele vigiava o perigo ao redor. Por pouco as vozes sumiram.
Certo dia, fui tomada por um rompante que me encheu de calor e senti a ilha estremecer, eu disse a ele que o amava. Estava eufórica, estava feliz.
Mas o pobre marinheiro nunca esteve perdido, ele sempre soube o caminho de casa e nela morava sozinho.
Ele se foi.
Nos últimos dias, eu aprendi a fazer fogo, isso me foi útil, eu consigo iluminar a ilha por algumas horas me afastando um pouco da penumbra, uso o carvão que sobra entre as cinzas para escrever nas paredes do meu abrigo coisas sobre amor, sobre ops dias que nunca vivi e coisas que eu nunca provei. Me mantém ocupada de tal forma que penso ser importante e lembro do meu próprio nome.
Tenho ficado muito aqui dentro, olhando pela fenda a chuva que se instalou lá fora.
Que tempestade, que aguaceiro medonho!
Não tenho como sair e minha lenha está acabando.
Mas caro leitor, isso não é um pedido de socorro. Não é um lamento, é a minha história.
Eu naufraguei em meu pranto, minha nau não era tão pomposa, mal tinha velas, era um verdadeiro desastre que infelizmente não comportou o peso da minha esperança ou do amor que eu trazia contrabandeado no porão.
Era tudo o que eu tinha. E se foi nas águas.
Talvez eu não saiba mais o que estou falando, o fogo está acabando e meu corpo frio começa a adormecer, talvez pra sempre ou pra nunca mais.
Ainda chove lá fora e a maré está alta.
Ponho esta mensagem numa garrafa vazia do último porre que tomei e a lanço, talvez alguma rede a arraste num dia de sol, ou talvez, ela se perca pra sempre.
Se alguém está lendo, saiba que fui um dia uma mulher, que teve a ousadia de tecer sonhos e dessas tramas ordinárias fez estandarte e discursou com convicção que só aceitaria a felicidade e nada mais. Acabou perdendo tudo o que tinha de mais precioso por oferecê-lo a quem não tinha zelo.
Isolou-se e se abrigou no próprio coração.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
sábado, 30 de junho de 2018
domingo, 3 de junho de 2018
quinta-feira, 31 de maio de 2018
segunda-feira, 21 de maio de 2018
sexta-feira, 20 de abril de 2018
quarta-feira, 21 de março de 2018
Rescosta-se enquanto ele veste a roupa e se despe das paixões prometidas
A fumaça esconde os olhos turvos embotados de lágrimas
O whisky quente lhe desce pela garganta como brasa
um beijo na testa lhe diz que ele vai dormir em casa
A carne que estava quente contrai-se na raiva
Fria
o vê passar pela porta sem olhar pra trás
"até mais"
Enfia o rosto no travesseiro e grita muda as palavras que não ousa dizer
Morde o lábio e declara ódio
joga praga
Respira o perfume que ficou nos lençóis
mira o teto e agradece por ter aquele homem, aquela vida
infeliz
"Semana que vem ele volta"
"deixa a outra"
Diz ser metade de algo que não existe
um cigarro queima na beirada móvel
lento
deixa marcas
Vanessa Dias
A fumaça esconde os olhos turvos embotados de lágrimas
O whisky quente lhe desce pela garganta como brasa
um beijo na testa lhe diz que ele vai dormir em casa
A carne que estava quente contrai-se na raiva
Fria
o vê passar pela porta sem olhar pra trás
"até mais"
Enfia o rosto no travesseiro e grita muda as palavras que não ousa dizer
Morde o lábio e declara ódio
joga praga
Respira o perfume que ficou nos lençóis
mira o teto e agradece por ter aquele homem, aquela vida
infeliz
"Semana que vem ele volta"
"deixa a outra"
Diz ser metade de algo que não existe
um cigarro queima na beirada móvel
lento
deixa marcas
Vanessa Dias
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Criatura
Eu sou um monstro!
Nomeada assim por quem me deve e eu cobrei
Sou má,
Injusta e egoísta
Cuidei de mim
Me salvei
Pulei fora de um barco às margens do inferno
Eu sou incompreensíva
Não quis jogar fora a minha vida
Não barganhei minha dignidade
Eu sou um monstro
por bater de frente
E querer ser gente independente do que me fizeram
Mas não toleram
Não aceitam que eu continue viva
Praguejam e me desejam a morte
Mas que sorte essa a minha?
Dar a mão e os pés para as viboras
Que mordiscam sem saber que já estão mortas
Sou nascida das cinzas e o teu veneno não me derruba
Ando de mãos dadas com mal
Pensa que sou ruim?
Você cuspiu pra cima e pôs a culpa em mim
Vanessa Dias
Nomeada assim por quem me deve e eu cobrei
Sou má,
Injusta e egoísta
Cuidei de mim
Me salvei
Pulei fora de um barco às margens do inferno
Eu sou incompreensíva
Não quis jogar fora a minha vida
Não barganhei minha dignidade
Eu sou um monstro
por bater de frente
E querer ser gente independente do que me fizeram
Mas não toleram
Não aceitam que eu continue viva
Praguejam e me desejam a morte
Mas que sorte essa a minha?
Dar a mão e os pés para as viboras
Que mordiscam sem saber que já estão mortas
Sou nascida das cinzas e o teu veneno não me derruba
Ando de mãos dadas com mal
Pensa que sou ruim?
Você cuspiu pra cima e pôs a culpa em mim
Vanessa Dias
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