No início era chama
Era refúgio a minha cama
Entregávamos-nos à vontade que ainda clama
Devaneios de quem ama
Envolvidos numa trama
Depois era catarse
mesmo que eu negasse
Temia que acabasse
que você também me amasse
ainda que assim eu desejasse
E então veio o verbo no presente
um cavalo de troia entregue na lua crescente
o alfa e o ômega gravados a ferro quente em suas ancas nossas iniciais permanentemente
Tornou-se um amor adoecido
de nós, tinha morrido
de promessas desguarnecido
tornou-se um sentimento desmerecido
e apareceu o rancor
traguei amor
embebida de melancolia e amargor
eu te esperando com a janela aberta e temor
jazia com o peito sangrador
E segui hemorrágica e chorei
fiz inúmeras ofertas e lhe dei
num último suspiro supliquei
nas tuas mentiras me deitei
E você tirou a roupa e a máscara
e eu vi tua cara
o desenho que fazia de ti, ó criatura rara
num lapso se rasgara
E no fim vi o que sabia desde o começo
meu camafeu feito com foto e cabelo
no teu pescoço virou adereço
você ria por tê-lo
O tempo passa no infinitivo e deriva
da minha alma ferida
que lamenta comedida
me julgo errada e precipitada
E além, lamurio o peso de ser desprezada
e abro no peito uma fenda encarnada
meto as unhas na errônea tentativa de ter a dor aliviada
de escoar o oceano em que estou afogada
Vanessa Dias
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