sábado, 7 de agosto de 2021

Micro Conto - Desejo para a chuva

 


Ela olhava pela janela o horizonte cinzento que se misturava com os últimos vestígios do dia.

A brisa suave que beijava seu rosto, trouxe a vontade de estar nos braços dele. O cheiro morno da tarde deu espaço ao frio que anunciava a chuva. O olhar fixo em lugar algum eram portais que a levavam ao mundo das memórias e dos pensamentos ardentes. Ergueu os olhos e vislumbrou os

raios estrondosos que cortavam os céus.

Sentiu o coração apertar de tal maneira que arrancou-lhe lágrimas dos olhos.

O corpo arrepiado chamava o dele a todo instante. As lembranças mais nítidas a fazia crer que ele estava ali, diante dela.

Os cabelos negros e a pele branca levemente salpicada de sardas. Os lábios

finos e o verde dos olhos que sempre lhe traziam esperança.

 O vento cada mais forte invadia o espaço que ele deixou aumentando o

a ferida no peito. E os pingos de chuva tocavam a pele dela com tamanha delicadeza que parecia beijar sua face. Subitamente

fechou os olhos marejados e escorreu-lhe pela boca o gosto suave de

lágrimas e chuva.

Desejava entregar-se ao desejo insano de encontrá-lo, tocar aquele corpo novamente.

Perguntava a si mesma se ele também sentia falta dela. 

E como se estivesse em êxtase atravessou o pátio descalça dando de encontro á rua ladrilhada de amores e saudade.

O corpo molhado num vestido branco ia de encontro ao corpo dele, ainda que não soubesse onde o encontrar.

Eis que na virada da esquina surgiu aquela silhueta tão conhecida, e em questão de segundos, contados ou não, olhos que não se encontraram por  uma eternidade ou mais, se conectaram.

O silêncio deveras talvez fosse quebrado quando ele movimentou os lábios, mas ela não precisava ouvir nada além do som do seu coração desritmado.

A mão fria dela afagou lhe os cabelos da nuca ensopados conduzindo-o para si, num movimento sublime.

Os lábios que chamaram o nome dele tantas vezes, agora trêmulos, ora de frio ora de emoção mataram a sede de beijá-lo. Naquele instante eram

apenas um, confundindo-se na tempestade que lhes dava calmaria á alma.

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