sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Babylon

Os jardins da Babilônia estão mortos
Sepulcro das línguas enfurecidas
e amaldiçoadas
O bramir colérico foi silenciado
e os punhos já não se cerram
As bocas destentadas já não recitam a lei de Talião
As pálpebras fecharam-se e a luz dos olhos já não existe
Os santos debaixo de seus mantos abrigam-se
Escondem a virtude que sobrara
O mal do mundo é o animal bípede
Escarnecedor
Alimenta-se da desgraça alheia e finge compaixão pela dor
Junta um punhado de palavras mal ditas e em notória oratória promete salvação
Da alma
da calma
Da solidão
A terra de Canaã já sumiu do mapa
Em grandes jornadas caminhando para lugar algum nos perdemos de nós mesmos
E esperamos a felicidade como num sorteio
Número um!
70 vezes o sete
A fantasia de dias melhores nos promete
se aquiete que tudo finda
estrela da manhã
morra à míngua

Vanessa Dias



quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Phílippos

As promessas a gente esquece
As juras de amor que ecoaram pelas quatro paredes de um lugar qualquer,
nos predizeram que não duraria
Eu também não quero mais ficar
Não usarei mais esse disfarce!
Apanha a tua máscara do chão e também as suas roupas
E é inútil acreditar que o feitiço se estenderá da meia noite para dois dias ou mais
A moral da história é sempre a mesma,
E assim termina,
Meus pés no chão
Rota,
Sou só eu, 
Sozinha

Vanessa Dias

domingo, 15 de setembro de 2019

Nua

Caminho pelos vãos das paredes
testemunhas da minha agonia
Busco invisibilidade
segura no escuro,
não temo
A lua projeta em mim as sombras das árvores anciãs
que murmuram meu nome
Convidam-me a dançar nua com meus demônios

Vanessa Dias

sábado, 15 de junho de 2019

Fui tomada por uma sensação de desespero
sentia o cheiro da morte
Minhas narinas estavam impregnadas pelo odor da falta de esperança
meu peito doía me causando náusea
Era o mal que te amar me fazia
Juntei ao meu redor minhas memórias
As mãos trêmulas me deixavam escapar esses fragmentos de vida
Tudo o que eu tinha após tua partida
A dor que me tomava vinha do estômago
Das palavras que eu engoli a e agora eram azia
Queimava minha traqueia todo aquele rancor escondido
Amor guardado no âmago da tragédia
Cheio de bolor
Onde meu coração jazia
Vomitei
Na vontade de te tirar de mim
Percebi o quanto é ruim por sobre os ombros o peso de amar sozinho
Um xale negro de tramas trançadas com fios dos meus cabelos e ferro me cobre
Escuto dentro de mim um berro
Anúncio de luto que me queima a alma
Na vontade de quedar inerte tudo aquilo que sinto eu me abrigo no medo
Desejo
Que verte de meus olhos em forma de lágrimas

Vanessa Dias

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Diga aos sobreviventes que a ajuda não virá
Diga a eles que a esperança está nas mãos
Daqueles que comprimem as feridas dos outros
E ninguém sabe que o mundo não nos quer vivos
Diga aos que dormem na nuvem da ignorância
Que o despertar vem no choro das crianças paridas sem vontade
Os protestos não as alimentará
Não as defenderá do estado
Já catatônico culpa o que se faz anônimo
Digam e levem também a voz às Madalenas que não se demorem a descobrir
Que o escuro do abrigo é ilusão
Que a chuva e o sereno lhes serão de mais valia
Pois não matam não se existe a vontade de se erguer do chão
Diga aos sobreviventes a olharem para o alto
Apenas não imergirem no lodo
Do engodo de quem os guiara à batalhas infundadas
gritem aos quatro ventos que exitem tormentos
Que existe o medo e a sabedoria de usá-lo para lutar até a exaustão
O mundo não nos quer vivos eu repito
Diga à ele
Que ouça atentamente o soar dos passos firmes
Há um levante
Erguem-se os estandartes dos marginais
E as vozes ecoarão no vazio absoluto da existência
Resistência
Digam aos ratos que o barco naufragara há muito
E não vai ter para onde correr
Olho por olho
Dente por dente
Tente!
Mas não vai nos deter

Vanessa Dias

sábado, 30 de março de 2019

domingo, 3 de março de 2019

Torpor

Das muitas tristezas que vivi deixar você ir foi a mais intensa
Dolorosamente me entreguei à tua ausência
Fiz da tua memória um abrigo
Para onde fugia nas noites frias
Abraçada às palavras não ditas que me rasgavam
Sussurravam minha fraqueza
Torpor e veneno
Não me era permitido te esquecer
Meu navio fantasma
Que aportava em mim mas não tinha âncora

Vanessa Dias 
Quedou-se em silêncio como se soubesse que sua voz era minha razão de viver
Eu entendi
As coisas ainda que muito desejadas às vezes deixam de acontecer
E que o meu mundo de vazio tornou-se cheio de nada
Desesperada
Minha carne paralizada como que tomada pelo parasita da tristeza
Me tornei hospedeira
Das dores, dos amores que me feriram
E a minha alma agora enferma
me condena ao escuro
Habito esse lugar ermo
Onde ninguém jamais deveria pisar
Exílio daquele cujo crime foi amar
Injuro
Destilo todo o veneno que brotou no meu peito e o condeno a sentir o mesmo

Vanessa Dias

sábado, 2 de março de 2019

Caminho pela escuridão como quem conhece cada cômodo de sua casa
Habito em mim e me conforto na melancolia
Adorno minha cabeça com as tristezas passadas
Estou coroada
Triunfante nessa vida e nas demais que vierem
As lágrimas lavam minh'alma como chuva que beija o chão ressequido
Foi doído
Romantizo minhas chagas
As exibo como pinturas sacras
Eu vi a dor
Ela me beijou mansa
Marcou minha testa
Mácula
Um existência, uma vida
Não sairei sã
Não sairei viva

Vanessa Dias

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Populus

Esse gosto por ser escravizado.
Sadismo social
As costas sempre doloridas por carregar a culpa por ser pobre
Um fardo que carregam com orgulho
Que não dividem
A lamúria é cultural e a gratidão não existe
Dependuram a corrente no pescoço
Exibem os grilhões
matam para defender o patrão
Capitães do mato
Sufocam
Atiram
Genocídio não é acidente
A justiça levanta a venda e esconde o rosto
É inaceitável que umas vidas valham mais do que outras
Quem faz essa escolha?
Desgraça não comove
move
Revira as entranhas
Movimentam a roda da fortuna
Engrenagem movida a sangue da periferia
Histeria
Mas uma criança foi ceifada
A mãe olha para o céu e pergunta
"Por que a minha filha?"
O infante pelos horrores do mundo consumido
Sofre ao carregar pedra
E um cachimbo
Faz nuvem de chumbo
Esconde o corpo moribundo
Como que fugisse para casa da árvore
Dependurado
Enforcado se balança sereno
É um a menos
É a matemática
Exatas são as previsões
A pele negra é atestado de ladrão
As mãos de quem queria fazer a diferença, ensanguentadas
Nelas o futuro da nação
Estamos acordados
De braços dados
Outros muitos cruzados
O peito apertado murmura
Enquanto as carpideiras cortejam um branco caixão
"Caminhando, cantando, e seguindo a canção"

Vanessa Dias
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