No chão de cimento queimado eu desenhei um sol
Para que do céu Santa Clara visse
E acabasse com a chuva do meu peito
coisa da minha meninice
risquei com giz e fervor para acabar com o temporal de tristeza
para secar meus olhos insones de medo do perigo que me visitava de madrugada
coisa que aprendi
chamar à todos os santos e rezar para o anjo da guarda
me sentia acolhida nos braços imaginários de seres que nunca vi
pois, quem eu conhecia eu não podia confiar
coisa da minha desproteção
mal nascida,
infanta já carregava uma ferida
coisa da vida
amordaçada pela juventude e falta de ouvidos
nunca fui capaz de dizer o que me doía roubava minha inocência
e ninguém viu
coisa de negligência
no chão de cimento queimado desenhei uma estrela e acendi uma vela
para que o mal visse
coisa de quem está desesperado
roguei uma praga ou duas e chamei a morte
coisa de quem não tem o que perder pois tudo já foi tomado
e a vela apagou com um sopro do meu alívio
meu corpo repugnante cheio de marcas
carrega uma história triste e mágoas
pra sempre maculado
coisa de quem teve a infância desrespeitada.
Vanessa Dias