quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Varre a frente de casa para a festa começar
Levanta poeira no terreiro para a moça bonita dançar
Gira o mundo e muda tudo de lugar
Cigana de pés no chão que não deixa de sonhar
Põe a rosa no cabelo ouro no decote
Duvido que ele seja assim tão forte
Não resite ao jogo de amor e morte
Que teu olhar lhe propôs
"Eita cabra de sorte!"
Diz quem admira o aconchego dos dois.

Vanessa Dias

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Canastrão

Na matinê da vida só dá você
com sua risada medonha
mascarado
filme de terceira 
na quinta à tarde
consorte do diabo!
faz a trama toda
e deleita-se na película ordinária
clichê maniqueista
é sombra
menestrel da desgraça
trilha o caminho
e acaba sozinho conversando com os pombos na praça

Vanessa Dias

domingo, 18 de dezembro de 2016

Simpatia

Acenda a vela
Reza 
Mandingas 
Retranca
Tranca  rua
A porta
O coração cheio
Medo 
A lua
Cheia de si
Alho, figa, intriga
Foto 3x4
Patuá 
Vira o ano, vira mundo
De pernas pro ar

Deixe que vá 

Vanessa Dias 
Eu Colombina dona de mim
Nem Pierrot
Nem Arlequim
Ébria converso com meus botões
Mascarada no bar do seu Joaquim

Vanessa Dias

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Achou uma moeda no chão
Guardou-a
Lhe atribuiu poder e fez oração
Era sorte
Salvação
Meteu-a no bolso furado
Não prestou atenção
Na desventura a moeda sem dono
Foi encontrada pelo menino faminto


Que comprou um pão

Vanessa Dias
A minha falta de fé me faz equilibrista
Caminhando na linha tênue entre o pessimismo e a realidade
Bambeio sobre o abismo

Vanessa Dias

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Bolhas de sabão
Redomas frágeis das meninas que dançam infância
Escuta!
Risos prematuros adornados com fitas coloridas em seus cabelos

Vanessa Dias
Mas que belo cartaz esse que você pregou na tua fachada!
Convida-nos à um espetáculo onde doma-se um leão desdentado, um elefante magro e um palhaço amargurado.
É pela fama que em teu chapéu jogo as moedas
Afinal você é quem precisa delas

Vanessa Dias

sábado, 10 de dezembro de 2016

A lâmina que está virada para a sua jugular reflete o rosto familiar do algoz
Logo vós?
César o mirou nos olhos
Jesus recebeu um beijo dos lábios embusteiros
Das traições somos herdeiros
Caminhando juntos pelas estradas de tijolos amarelos
Tapetes vermelhos
Que são puxados pelas mãos do matreiro
Sansão o que diria se ainda tivesse a cabeça?
Prenderia no dedo indicador um fita
Não se esqueça!
Não confie em ninguém
Dalilas, Judas
Brutus!
Até tu
Basta descansar
Mirando o infinito azul pra virar aposta de urubu

Vanessa Dias

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O corpo sucumbe ao que a razão teme
Treme a carne rosada à tortura de ser amada

Vanessa Dias

sábado, 26 de novembro de 2016

Ele é o sol tímido depois de horas de chuva
Pinta o céu com nuances rosa pastel
E me toca a face
Esconde-se por trás do véu gasoso
E eu o vejo com olhos ávidos
Assim não o esqueço
Brilha
Aquece meu corpo preguiçoso
Eu inclino a cabeça para trás
Me beija
A pálpebra vermelha escurece
O firmamento sépia vela teu rosto
Deixa um gosto de verão
Enquanto volto a ser tempestade

Vanessa Dias

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Carregava muitos "eu te amo"
Jogava-os de aleluia
Semeava ilusões em terrenos arenosos
E regava
Com canções
Com palavras levianas adubava
Eram vermelhas, brancas e frágeis
As Margaridas, Rosas e Marias
Enganadas

Vanessa Dias

sábado, 19 de novembro de 2016

Ausência de vontade me enterra na inércia
Me tira a coragem
Torna insípida a vida
A boca seca cerra
Me engasgo com as palavras mal ditas

Vanessa Dias

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Contos ao garçom

O príncipe aboborou-se
Meia conversa
Em um canto da noite
Enquanto eu bebia fadas 
Perdi o interesse e me distraí
Encantada
O cristal da garrafa atraía-me
Verdoso conto de final incerto


Vanessa Dias

domingo, 30 de outubro de 2016

Cisne

Chegou na minha vida feito bailarina
Na ponta dos pés fez se entrar
Dançava graciosa e me fez amar
Risada de menina traquina
Zombava do meu olhar
Numa caixinha rústica chamada peito
Eu a quis guardar
Cisne negro 
Não largo
A canção era repetitiva
Ela cansou
Num Gran Jeté me deixou

Vanessa Dias 

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Conforme

A falsa esperança de que sempre haverá amanhã é o que nos leva a acreditar que somos eternos.
Não há nada no fundo do pote, não há sorte.
O fim é a certeza
O destino é a morte


Vanessa Dias

Persona



Faça o que dizem
Deixe de existir
Faça o que fazem
E seja mais um
Faça o que jamais fizeram
E seja você

Vanessa Dias
A casa fria não guarda mais tua risada
Na penteadeira não tem mais o frasco do teu perfume
O teu lado da cama ainda feito me diz:
" -  Ela se foi"
Em silêncio respondo:
"- Mas ainda mora em mim"

Vanessa Dias

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Desencanto

Enganou-se e envernizou a madeira cheia de cupim 
e ruiu podre por dentro
olhou para o resto no desalento
o pó escuro que se espalhava
pela rachadura na face da carranca
o odor pútrido exalava
era bicho 
era lixo
figura estranha que em casa guardava

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cinderela Controversa

A pobre princesa ao ser salva, de tão emocionada não percebeu que estava apenas a mudar de torre.



Os finais felizes são como a primeira noite de bebedeira, ninguém conta como é a ressaca do outro dia.

sábado, 10 de setembro de 2016

Mãe

Ser mãe 
Tarefa difícil
Tomar no colo  pequeno um mundo em construção 
Ser mãe é ser engenheira 
Fazer planos que edificam nós mesmas
E abrigam 
Ser mãe é ser professora de letras e língua 
Mater 
Tece sonhos, ainda que não sejam os seus
E cobre 
Com as mãos, com as asas
Em casa 
Madre 
Resposta pra tudo, ser mãe é divino
Padece e não tem paraíso 
E ter braço forte e mente sã 
Toda mãe é Antonieta 
Grita pelo pão, pela roupa, cadernos e canudos
Mãe não é assessorista
Apenas aponta a porta e chora 
O ninho vazio
Depois de ser Atlas a mamãe vira astronauta 
E olha de longe seu mundo 
Que gira em volta de si
E se sai de órbita, procura sua lua
E chega no domingo



Vanessa Dias


terça-feira, 6 de setembro de 2016

Chega assobiando como quem não quer nada
Bagunça a  vida, a cama de madrugada.

Vanessa Dias

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Sobre Corvos, Ratos e um Fazendeiro

Certa vez um fazendeiro cansado de ter seu milharal saqueado por corvos decidiu tomar providências.
Resolveu então ele fazer rondas munido de uma espingarda, mas assim que virava as costas as aves enchiam a pança e gracejavam: -" Mas que tolo! Assim que ele vem nós nos escondemos e quando ele se vai nós comemos e comemos!"
O caso era que além de comilões os corvos eram egoístas e monopolizaram os cereais, visto que existiam por ali ratos que também adoravam milho e sempre estavam atentos ao menor vacilo do fazendeiro para também comê-lo. Acontece que sempre que se aproximavam os corvos gritavam e batiam as asas negras violentamente assustando os roedores.
Inconformados os ratos resolveram se reunir e pensar numa maneira de tirar os corvos dali.
Então fez-se uma assembléia.
Um rato gorducho de bigodes grossos elevou-se subindo numa tampa de garrafa e pediu a atenção dos demais: -" É inaceitável que isso continue acontecendo! Eles nos escorraçam como se fôssemos ratos! Comem tudo e ainda riem de nossas caras. Temos que tomar o que é nosso!"
Outro rato esguio sem entender muito o discurso do caro colega coçou a orelha esquerda e até pensou em debater mas ao olhar ao redor percebeu que a ratazanada estava fervorosa e preferiu se calar.
Eram muitos e representados por uma minoria sádica e falante não conseguiam chegar à um acordo a respeito do problema.
Uns diziam: -"Vamos matar os corvos!" outros iam mais longe; -"Vamos matar o fazendeiro!"
Era tamanha a confusão que ao final não sabiam mais por qual motivo estavam ali reunidos.
E os corvos continuavam a comer todo o milho, enxotando os ratos e rindo da cara do fazendeiro que depois de muitos dias resolveu esperar a estação acabar e capim plantar esperando talvez que os corvos se fossem e o vizinho prendesse bem suas vacas.




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